27 de nov. de 2009

Colagem do blog do Noblat

Rigotto, Sarney e a herança da ditadura




No tempo da ditadura de 64, os militares perseguiam, caçavam, prendiam, intimidavam e inibiam jornais e jornalistas insubmissos, que teimavam em contar a verdade e enfrentar o regime. Como último recurso matavam os mais rebeldes pelo bolso, pela asfixia econômica, pela fuga de anunciantes, pela penúria absoluta e fatal.



Alguém precisa avisar ao ex-governador gaúcho Germano Rigotto que os tempos mudaram. Na democracia, é impensável perseguir jornais e jornalistas, como ele está fazendo com um pequeno mensário de Porto Alegre, o JÁ (tiragem de cinco mil jornais) e seu editor, Elmar Bones, um dos mais respeitados profissionais da imprensa brasileira, com passagem por revistas e jornais de Rio e São Paulo.



Nos duros anos dos generais, Bones foi editor-chefe do CooJornal, órgão da Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, um dos mais corajosos títulos da imprensa nanica que desafiava o regime. Como tantos outros, morreu pela pressão militar e pelo cerco econômico.



Em 2001, o JÁ de Bones publicou uma reportagem devastadora sobre a maior fraude da história gaúcha: contratos manipulados da estatal de energia que lesou o Rio Grande em R$ 800 milhões, valores de hoje. O operador central da quadrilha, segundo a CPI que estudou o caso, era o irmão do ex-governador, Lindomar Rigotto.



O JÁ contou essa história, que ganhou os maiores prêmios jornalísticos da época – inclusive o Esso. Pois a família Rigotto não gostou do que leu e processou Bones e seu jornal. Jornal pobre, ele não tem os recursos para pagar agora a indenização de R$ 54 mil pedida pela mãe de Lindomar e Germano, dona Julieta, de 88 anos. E, assim, Bones anunciou esta semana que a edição nas bancas é a derradeira do JÁ.



Rigotto costuma dizer aos amigos que não tem nada a ver com as agruras do JÁ. "Isso é coisa da minha mãe", tenta escapar. Com isso, repete exatamente a mesma tática de José Sarney quando se esquiva da censura que o jornal O Estado de S.Paulo amarga há quatro meses, impedido de publicar as conversas gravadas e pouco republicanas de Fernando Sarney: "Isso é coisa do meu filho", escorrega o presidente do Senado.



As espertezas de Rigotto e Sarney, além de zombar da inteligência do leitor e do eleitor brasileiro, são graves ameaças à liberdade de expressão no país. O relato sobre o caso Rigotto X JÁ, feito no texto do jornalista Luiz Cláudio Cunha, no Observatório da Imprensa, alerta a todos nós sobre os vícios autoritários que a democracia herdou da ditadura, e que continuam perigosamente atuais.



Leia o texto de Cunha em O jornal que ousou contar a verdade

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